Maior produtor do país não tem onde guardar grãos
Conforme dados da Conab, os agricultores podem armazenar somente 30,1% da capacidade do Estado
Texto: Marcella Lírio
Mato Grosso se consolidou como o maior produtor de grãos do país. No entanto, o Estado também enfrenta os gargalos logísticos do setor, e um deles é a escassez de armazenagem. Há um déficit de 32 milhões de toneladas. Porém, levando-se em consideração as premissas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), esta carência sobe para 46 milhões de toneladas.
Atual recordista possui apenas 22% da capacidade de armazenagem nacional, cerca de 2.211 unidades, que juntas, podem guardar aproximadamente 38 milhões de toneladas. Nos últimos dez anos, a produção estadual de soja e milho evoluiu em mais de 43 milhões de toneladas. Mas a capacidade de armazenagem aumentou apenas 11,88 milhões, neste período.
Conforme dados obtidos pelo cadastro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os produtores rurais podem armazenar atualmente 30,1% da capacidade do Estado. A Região Leste de Mato Grosso é uma das mais prejudicadas com a falta de armazéns. Centenas de produtores não têm onde guardar os grãos e ficam com a produção comprometida. É o caso do produtor rural Paulo Vieira Gonçalves Júnior, Fazenda Eldorado, em Bom Jesus do Araguaia (longe 850 km da Capital mato-grossense), embora ele tenha silos em sua propriedade a estrutura está pequena. “Com as estradas ruins o fluxo de caminhões diminui, atrapalha o carregamento e com armazém pequeno compromete muito, precisa de estrutura estática maior, que são investimentos que ficam travados por várias situações”, declarou.
Espigão do Leste, distante de Cuiabá a 1.146 KM, o último Distrito que faz fronteira agrícola de Mato Grosso onde a agricultura ‘estourou’, são mais de 200 mil hectares de lavoura. Por lá, produtores também reclamam da falta de infraestrutura e de armazéns. “A questão de armazenagem em Mato Grosso é um grande problema, o armazém no Estado é sobre rodas, em cima de caminhões. É necessário baixar juros, fazer programas para que o produtor rural possa ter seu próprio silo, além de programas por parte do governo federal de incentivo ao agricultor”, declarou o produtor rural Alexandre Di Domêncio.
A realidade aponta para outro fator preocupante que é a qualidade dos grãos. Principalmente no período de chuva, que coincide com a colheita da principal safra: a soja. “Ou o produtor colhe ou perde o produto, quando chega no armazém para carregar enfrenta fila, e quando para no porto para descarregar também enfrenta fila. O grão poderia estar em 6 a 8 por cento, começa a mofar e é visível, já passa para 15 a 20 por cento de avariado, apresentando divergência entre armazéns e o produtor”, afirma o Técnico Classificador Legal da Aprosoja, Hercimu da Silva.
Presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), Fernando Cadore, explica que é importante aumentar o número de armazéns pertencentes aos produtores, pois podem ser vistos como um fator estratégico para a venda, já que permite a comercialização em momento oportuno e de melhores preços. Além de ser garantia para safras em que o tempo interfere na colheita dos grãos. Com o aumento de armazéns diminuiria o desgaste das rodovias, acidentes com vítimas, desperdício de alimentos e inflação no prato do cidadão.
“A construção de armazéns garante a autonomia dos produtores que podem negociar as safras em diferentes momentos. Garante ainda, a segurança alimentar e a soberania de um país, que tem estoques mantidos em casos de crises”, enfatizou Cadore.
Capacidade estática ideal - E com a expectativa de avanço produtivo nos próximos anos, o Estado precisaria ampliar a sua capacidade estática para 125 milhões de toneladas até 2030, ou seja, teria que apresentar uma taxa de crescimento anual da capacidade de armazenagem na ordem de 22,9%, frente aos 3,7% observados nos últimos anos. Mas se for mantido o mesmo ritmo de construções de silos, Mato Grosso chega a 2030 com capacidade para apenas 51 milhões de toneladas.